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A REBELDIA VIROU DE DIREITA?

  • carlospessegatti
  • há 11 minutos
  • 7 min de leitura
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Como o antiprogresismo e a incorreção política moldam um novo senso comum


(Análise completa do livro de Pablo Stefanoni)



“A rebeldia deixou de ser território exclusivo dos subalternos.”


“Ignorar as formas culturais da direita é perder o terreno onde se decide o próximo ciclo histórico.”


1. Apresentação Geral

O historiador e jornalista argentino Pablo Stefanoni parte de uma pergunta provocadora: a rebeldia — antes associada aos movimentos subalternos, contraculturais e emancipatórios — foi capturada pela direita?


Em A rebeldia virou de direita? Stefanoni examina como subculturas online, anticorreção política, antiprogresismo e narrativas de ressentimento moldam um novo terreno cultural que reorganiza o sentido comum contemporâneo.


A tese é clara: há uma transgressão que se tornou conservadora, e a esquerda não pode apenas ridicularizá-la — precisa compreendê-la.


2. Excertos curtos 

“A incorreção política funciona como forma de revuelta antiprogresista.”

“A web passou de promessa revolucionária a pesadelo da contrarrevolução.”


3. RESUMO CAPÍTULO A CAPÍTULO


Introdução — A Pergunta que Reorganiza o Debate

Stefanoni abre o livro situando o terreno cultural: a rebeldia deixou de ser monopólio da esquerda. Movimentos que se apresentam como “anti-sistema” e “incorretos” reivindicam a bandeira da transgressão, transformando memes, ironia e indignação em energia política.


Capítulo 1 — Mutação das direitas: das margens ao centro

O autor percorre a genealogia das direitas, do conservadorismo clássico às vertentes híbridas contemporâneas: nacionalismos atualizados, neoliberalismo de choque, tecnolibertarismo, populismo digital. Mostra como setores da direita capturaram estéticas contestatórias, falando diretamente à frustração das classes médias e à desconfiança nas instituições.


Capítulo 2 — A incorreção política como arma cultural

Aqui surge o conceito-chave: a incorreção política como dispositivo de transgressão. Não é apenas grosseria, mas uma estratégia simbólica: usar o riso, o deboche e a provocação para deslegitimar agendas igualitárias e construir comunidades de ressentimento. A esquerda aparece, no imaginário dessa nova direita, como moralista — antissensual, sensível demais, intolerante ao humor.


Capítulo 3 — Subculturas on-line: memes, ironia e ressentimento

Stefanoni mapeia o subterrâneo digital: fóruns, chans, podcasts, influencers, subculturas meméticas. Esses espaços funcionam como fábricas de sentido, capazes de produzir narrativas rápidas e virais. O autor analisa como o ressentimento se estetiza e como a moralização anti-“vítima” torna-se força agregadora.


Capítulo 4 — As novas famílias ideológicas da direita

Um dos capítulos mais densos.Stefanoni descreve formas ideológicas híbridas:

  • paleolibertários,

  • nacionalistas identitários,

  • ecofascismos,

  • tecnoutopias autoritárias,

  • anarco-capitalistas,

  • direita memesfera.


A rebeldia aqui assume uma estética provocadora, juvenil, veloz — mas ancorada num horizonte político conservador, individualista e antissolidário.


Capítulo 5 — O que a esquerda deve fazer?

O diagnóstico final é um chamado estratégico:

  • recuperar linguagem simbólica,

  • disputar o humor,

  • entender a estética digital,

  • reconstruir narrativas de futuro que respondam às ansiedades que hoje nutrem a adesão às direitas.

Stefanoni sustenta que a esquerda precisa voltar a comunicar imaginação e esperança, sem ceder ao moralismo e sem abdicar da crítica estrutural.


4. ANÁLISE CRÍTICA 

Stefanoni tem méritos decisivos:

  • trata a direita não apenas como força eleitoral, mas como fenômeno cultural,

  • observa como a internet redefiniu o conceito de rebeldia,

  • evidencia a dimensão estética que eu entendo tão bem — a disputa simbólica.

Por outro lado, alguns limites:

  • a obra é ensaística, faltando aprofundamento sociológico das bases materiais que sustentam essas subculturas;

  • uma abordagem mais marxista exigiria analisar como o capital se apropria da estética da transgressão para perpetuar sua hegemonia.

Mesmo assim, o livro cumpre o papel de alarme cultural: Se a rebeldia foi capturada, como reconquistá-la? A resposta exige imaginação estética, crítica da economia política e reconstrução do horizonte utópico.


5. COMO ESTE LIVRO DIALOGA COM A MINHA OBRA?

Para mim, que crio música futurista, pós-apocalíptica e conceitual, este livro abre várias frentes artísticas:

  • sons da contrarrevolução digital (drones, texturas corrosivas, paisagens irônicas);

  • peças que explorem o imaginário da rebeldia sequestrada;

  • criações que revelem o vazio da transgressão meramente performática;

  • harmonias que proponham insurgências reais — criativas, afetivas, emancipatórias.

O livro é mais ferramenta estética do que política: um laboratório.


6. BIBLIOGRAFIA ANOTADA EXPANDIDA

(Obras para ampliar o debate)


Pablo Stefanoni — A rebeldia virou de direita?

Leitura-base. Mostra como a estética da provocação foi capturada por setores conservadores.


Angela Nagle — Kill All Normies

Obra seminal sobre subculturas digitais, 4chan, memes, misoginia e ressentimento. Explica como comunidades liminares incubaram a alt-right.


Christian Dunker — A psicose na política

Análise brasileira sobre afetos, ressentimentos e a performatividade das novas direitas.


Mark Fisher — Realismo Capitalista

Fundamental para compreender por que a rebeldia perdeu força emancipatória e tornou-se, muitas vezes, mercadoria cultural.


Richard Seymour — The Twittering Machine

Discussão profunda sobre como plataformas digitais moldam subjetividades, afetos e discursos de ódio.


Wendy Brown — Nas ruínas do neoliberalismo

Explica como o neoliberalismo produz subjetividades autoritárias, ressentidas e hostis à igualdade.


Pierre Dardot & Christian Laval — A Nova Razão do Mundo

Obra essencial para compreender como o neoliberalismo se converteu em forma de vida, moldando comportamentos e imaginários.


Byung-Chul Han — Psicopolítica

Uma abordagem filosófica da sociedade da performance e da manipulação emocional no capitalismo de dados.


Eric Sadin — A humanidade aumentada / A era do indivíduo tirano

Reflexões sobre tecnologia, individualismo extremo e a dissolução dos vínculos sociais.


Evgeny Morozov — Big Tech: a ascensão dos dados e a morte da política

Crítica da tecnologia corporativa e de sua captura das formas de subjetivação.


Outros artigos e estudos relevantes

  • Estudos sobre a "alt-tech" e ecologias de mídia paralelas.

  • Pesquisas sobre radicalização digital em plataformas brasileiras.

  • Artigos sobre estética da transgressão na era do neoliberalismo tardio.

  • Investigações marxistas sobre o ressentimento como força política.


FECHO

A rebeldia virou de direita? é um livro breve, incisivo e profundamente útil para entender o ciclo cultural que define o presente.


Para quem, como eu, que cria arte que dialoga com ciência, filosofia e crítica da contemporaneidade, esta obra oferece um mapa precioso da disputa estética e simbólica de nosso tempo.




INVESTIGAÇÕES MARXISTAS SOBRE O RESSENTIMENTO COMO FORÇA POLÍTICA



1. István Mészáros — Estrutura Social e Formas de Consciência (vols. I e II)

Por quê é essencial? Mészáros analisa as formas de consciência produzidas pelo metabolismo do capital: alienação, frustração e ressentimento são efeitos estruturais, não psicológicos. Ele mostra como o ressentimento pode ser canalizado para posições conservadoras quando o horizonte emancipatório se debilita.


Ideia-chave:

o ressentimento surge quando a energia humana é bloqueada pelas relações sociais do capital e devolvida como autoculpabilização ou ódio ao outro.


2. Slavoj Žižek — Eles não sabem o que fazem e Bem-vindo ao deserto do real

Não é marxista clássico, mas marxista hegeliano freudiano.


Žižek explica como afetos negativos — inveja, ressentimento, gozo perverso — podem ser mobilizados por discursos de direita para organizar identidades hostis. Ele descreve como a ideologia “ensina a gozar” através do ódio.


Contribuição ao tema: entender como estruturas econômicas produzem subjetividades ressentidas.


3. Wendy Brown — Nas Ruínas do Neoliberalismo

Brown é marxista heterodoxa. Aqui ela mostra como o neoliberalismo gera indivíduos feridos, humilhados, despossuídos, afetivamente inclinados ao ressentimento autoritário.


Ponto alto: O ressentimento das classes desestruturadas não é irracional: é a resposta emocional à destruição de horizontes sociais.


4. Christian Dunker — Mal-estar, sofrimento e sintoma (leitura crucial para o Brasil)

Psicanalista lacaniano, mas alinhado a leituras marxistas da subjetividade.

Dunker explica como a nova configuração da desigualdade produz comunidades ressentidas, que se organizam politicamente a partir de feridas narcísicas e de humilhações sociais.



5. Paulo Arantes — O Novo Tempo do Mundo

Uma das obras mais profundas da teoria crítica brasileira. Arantes argumenta que vivemos num tempo de encolhimento do futuro, e isso produz formas de niilismo e ressentimento que retroalimentam o conservadorismo.


Tese central: Sem horizonte utópico, o ressentimento preenche o vácuo político.


6. Ruy Braga — A Rebeldia do Precariado

Braga analisa o precariado global e brasileiro e mostra como condições de trabalho precarizadas produzem angústia, raiva difusa e ressentimento — muitas vezes capturados por discursos reacionários.


Insight-chave: O ressentimento é o “ruído emocional” da exploração flexibilizada.


7. Enzo Traverso — As novas faces da direita e Melancolia de Esquerda

Traverso propõe uma leitura histórica do ressentimento:

  • como a direita o mobiliza para construir identidade

  • como a esquerda sofre uma melancolia política, transformando ressentimento em nostalgia ética.


Tese importante: Quando não há futuro, cresce o desejo de revanche.


8. Pierre Dardot & Christian Laval — Ce cauchemar qui n’en finit pas (ainda sem tradução)

O livro mostra como as subjetividades neoliberais — competitivas, feridas, culpabilizadas — geram ressentimentos usados para alimentar políticas autoritárias.

Categoria essencial: a “responsabilização” neoliberal multiplica afetos de fracasso, humilhação e ódio.


9. Axel Honneth — Luta por Reconhecimento (lido em chave marxista)

Embora Honneth seja associado à Escola de Frankfurt, sua teoria do reconhecimento é extremamente útil para compreender o ressentimento enquanto reação à negação de:

  • dignidade

  • estima social

  • pertencimento.

O ressentimento, aqui, é sintoma da luta bloqueada.


10. Frantz Fanon — Os condenados da terra

Embora não utilize a palavra “ressentimento” de modo sistemático, Fanon descreve como as experiências coloniais geram formas de ódio, raiva e agressividade que podem ser politizadas progressivamente ou destrutivamente.


Lição de Fanon: o ressentimento pode ser transformado em luta emancipatória — ou capturado por autoritarismos.


11. Michael Löwy — ensaios marxistas sobre romantismo e revolta

Löwy analisa como a “sensibilidade romântica ferida” pode se converter tanto em impulso emancipador quanto em ressentimento reacionário.


12. Análises marxistas brasileiras recentes sobre ressentimento (artigos)

Aqui alguns temas e autores recorrentes:

  • Jessé Souza — crítica à humilhação estrutural no Brasil.

  • Marília Moschkovich — ressentimento político nas periferias.

  • Estudos sobre bolsonarismo (Safatle, Schwarcz, Dunker).

  • Pesquisas marxistas sobre afetos e neoliberalismo (UFABC, USP, UFRJ).


Síntese 

Esses autores convergem em três pontos:

  1. o capitalismo tardio gera sujeitos feridos: precarizados, despossuídos, frustrados;

  2. esses afetos negativos tornam-se energia política, podendo migrar tanto para revoltas emancipadoras quanto para movimentos reacionários;

  3. a luta cultural contemporânea depende de compreender os afetos, não apenas estruturas — e isso inclui o ressentimento como força social moldável.



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