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Os Harmônicos: A Matemática Oculta do Som

  • carlospessegatti
  • 29 de set.
  • 3 min de leitura
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Entre a física da corda vibrante e a poesia do timbre


O princípio pitagórico


Segundo a tradição, Pitágoras teria descoberto que o som não era apenas sensação, mas ordem matemática. Ao tensionar uma corda e colocá-la em vibração, percebeu que o som produzido podia ser dividido em proporções simples. Quando a corda vibra inteira, ouvimos a nota fundamental. Ao dividi-la em duas partes iguais (1/2 do comprimento), a frequência duplica, e o ouvido reconhece a oitava da nota inicial.


Essa foi a primeira grande revelação: a relação entre comprimento de corda e frequência é inversa. Quanto menor o comprimento vibrante, maior a frequência, e portanto mais agudo o som.


A série harmônica

A corda não vibra apenas em sua totalidade. Simultaneamente, ela se subdivide em frações: 1/2, 1/3, 1/4, 1/5... Cada fração corresponde a uma frequência múltipla da fundamental. Esses múltiplos são os harmônicos.

  • 1º Harmônico (fundamental): corda inteira.

  • 2º Harmônico: corda em 1/2 → oitava acima.

  • 3º Harmônico: corda em 1/3 → uma quinta justa acima da oitava.

  • 4º Harmônico: corda em 1/4 → a segunda oitava.

  • 5º Harmônico: corda em 1/5 → uma terça maior acima da segunda oitava.

  • 6º Harmônico: corda em 1/6 → quinta justa acima da segunda oitava.

  • E assim sucessivamente...


Dessa progressão nasce não apenas a escala natural, mas a própria sensação de consonância. Intervalos como a oitava, a quinta justa e a terça maior soam “naturais” ao ouvido humano porque são literalmente parte da física da vibração.


Música e matemática entrelaçadas

Cada harmônico é um múltiplo inteiro da frequência fundamental. Se a nota fundamental vibra a 100 Hz:

  • o 2º harmônico será 200 Hz,

  • o 3º será 300 Hz,

  • o 4º será 400 Hz,

    ...e assim por diante.


Essa relação de múltiplos inteiros é o que torna a série harmônica um fenômeno matemático perfeito. É como se cada nota fosse a semente de uma árvore invisível que contém, em si, um cosmos de outros sons.


Harmônicos e timbre

Se a matemática explica a ordem, é o timbre que dá a cor. Um violino, um piano e uma flauta podem tocar a mesma nota fundamental, mas soam diferentes porque cada um reforça diferentes harmônicos.

  • A flauta produz um som mais “puro”, com poucos harmônicos fortes.

  • O violino e o violoncelo, ao contrário, exibem uma rica série harmônica, o que lhes dá calor e profundidade.

  • Os instrumentos de sopro metálico (trompete, trombone) destacam harmônicos mais altos, criando brilho e potência.

Assim, o timbre de um instrumento não é outra coisa senão a assinatura harmônica de sua vibração.


Harmônicos e a construção musical

A série harmônica moldou a própria história da música:

  • A consonância da oitava e da quinta fundamentou a música medieval.

  • A inclusão da terça maior (5º harmônico) abriu espaço para a polifonia renascentista.

  • A exploração de combinações mais complexas de harmônicos deu origem à harmonia tonal do barroco e do classicismo.

  • No século XX, compositores passaram a explorar até mesmo os sons inarmônicos e espectros não tradicionais, como fez Olivier Messiaen ou, depois, a música espectral (Grisey, Murail).


O aspecto filosófico e cósmico

Pitágoras não via os harmônicos apenas como física, mas como uma revelação da ordem do cosmos — a famosa harmonia das esferas. Acreditava-se que os planetas, ao se moverem, produziam sons em proporções semelhantes às da série harmônica, inaudíveis ao ouvido humano, mas perceptíveis à alma.


Hoje, sabemos que essa ideia tinha um fundo poético mais que científico, mas ela ecoa em muitos músicos modernos que buscam traduzir a matemática do universo em som.


O infinito no finito

Os harmônicos nos ensinam que um único som não é singular, mas plural. Toda nota contém em si um mundo, uma constelação de frequências que vibram em comunhão.


Na matemática, isso se traduz em números inteiros e frações simples. Na música, em intervalos que nos parecem naturais ao ouvido. No espírito, em uma metáfora poderosa: dentro de cada ser, assim como dentro de cada nota, ressoa uma infinidade invisível, esperando para ser revelada.


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