Sociedade Patriarcal vs. Cultura Matrística
- carlospessegatti
- 26 de ago.
- 2 min de leitura

Entre dominação e cuidado: duas formas de estruturar a vida em sociedade
Desde as origens da civilização, a humanidade construiu diferentes modelos de organização social. Entre eles, destacam-se dois polos: a sociedade patriarcal, que se consolidou como dominante na maior parte da história registrada, e a cultura matrística, um conceito que busca resgatar formas de convivência orientadas pelo cuidado, pela reciprocidade e pela integração com a natureza. Analisar suas diferenças é fundamental para compreender os rumos do presente e os caminhos possíveis para o futuro.
A Sociedade Patriarcal
A sociedade patriarcal é baseada na supremacia masculina, estabelecendo estruturas de poder verticalizadas que privilegiam o homem como centro da autoridade política, religiosa, econômica e familiar.
Valores centrais: dominação, hierarquia, competição, acumulação.
Organização social: rígida, normativa, voltada para o controle da vida social e das subjetividades.
Efeitos históricos: reforço do machismo como prática cultural que inferioriza as mulheres e marginaliza sensibilidades não alinhadas à lógica de poder masculino.
Relação com o capitalismo: o patriarcado encontra no capitalismo um aliado, pois ambos se estruturam pela ideia de exploração e acumulação — seja do trabalho, do corpo feminino ou da natureza. O trabalho reprodutivo invisível (cuidado, educação, afeto) é desvalorizado em favor da lógica produtiva e mercantil.
A Cultura Matrística
O termo "matrístico", cunhado pelo biólogo chileno Humberto Maturana, não significa uma sociedade matriarcal, mas um modo de viver centrado na cooperação, no respeito à vida e na integração com a comunidade e a natureza.
Valores centrais: cuidado, reciprocidade, convivência, circularidade.
Organização social: menos hierárquica, aberta ao diálogo e ao reconhecimento da diversidade.
Efeitos históricos e potenciais: resgata tradições de povos originários e comunidades que estruturam a vida em torno da preservação, da espiritualidade conectada ao cosmos e da economia de subsistência e solidariedade.
Relação com o presente: em tempos de crise civilizatória, marcada por desigualdades e destruição ambiental, a cultura matrística aparece como horizonte utópico que inspira novas formas de vida sustentável e inclusiva.
Quadro Infográfico – Diferenças entre Patriarcal e Matrístico
Aspecto | Sociedade Patriarcal | Cultura Matrística |
Princípio central | Dominação, poder, hierarquia | Cuidado, cooperação, convivência |
Relações sociais | Competitivas, verticalizadas | Recíprocas, horizontais |
Papel do gênero | Masculino dominante, feminino subordinado | Valorização da diversidade, integração de papéis |
Economia | Acumulação, lucro, exploração | Sustentabilidade, partilha, subsistência |
Relação com a natureza | Exploração como recurso | Respeito e integração ecológica |
Efeitos culturais | Machismo, militarismo, mercantilização da vida | Solidariedade, espiritualidade conectada ao cosmos |
Relação com o Capitalismo | Base de sustentação, reforço da lógica de exploração | Contraponto crítico, busca por alternativas comunitárias |
Considerações finais
A oposição entre patriarcado e cultura matrística não deve ser lida apenas como um contraste entre passado e futuro, mas como um campo de tensões ainda presente em nosso tempo. O patriarcado permanece estruturando práticas sociais, políticas e econômicas, em profunda simbiose com o capitalismo e com o machismo. Por outro lado, experiências matrísticas — ainda que fragmentadas — emergem em movimentos sociais, na busca por espiritualidades alternativas, na ecologia profunda e nas práticas comunitárias de resistência.
Assim, mais do que substituir um modelo por outro, trata-se de reconhecer que o futuro da humanidade pode depender de recuperar a dimensão matrística da vida, reencontrando na cooperação e no cuidado os alicerces para um mundo menos desigual e mais humano.



Comentários