Stabat Mater Electronicum - O Sofrimento da Mãe Divina na Era das Máquinas
- carlospessegatti
- 27 de set
- 7 min de leitura
Atualizado: 29 de set

Apresentação do Álbum
Stabat Mater Electronicum é uma travessia sonora entre o sagrado e o sintético, onde a dor arquetípica da Mãe aos pés da Cruz é traduzida em frequências, drones e texturas digitais. Inspirado na sequência litúrgica medieval Stabat Mater Dolorosa — e em suas incontáveis releituras ao longo dos séculos — este álbum propõe uma abordagem contemporânea e eletroacústica da dor e da transcendência.
Nesta obra, eu reimaginei o pranto da Mãe Cósmica em meio à sobrecarga da modernidade tecnológica, como se a Virgem, ao invés de contemplar o corpo do Filho crucificado em madeira, o visse agora crucificado nas telas, algoritmos, máquinas e na solidão digital de um mundo dessacralizado. A composição busca transpor o espírito litúrgico do original para um ambiente sonoro de profunda introspecção, onde a espiritualidade é evocada não por vozes humanas, mas por sínteses harmônicas, espectros modulares e frequências que ressoam a dor universal.
Cada faixa representa um momento da sequência original, reinterpretado sob uma ótica contemporânea: a travessia de uma Mãe-Arquétipo pelo sofrimento, mas também pela iluminação, num cenário onde carne e circuito, silêncio e ruído, passado e futuro colapsam no mesmo ponto de escuta.
🎧 Faixas que farão parte deste álbum
1 - Intro: Lacrimosa in Machina
(Lágrimas na Máquina)
2 - Virgo Dolorosa (Data Crucis)
(A Virgem Dolorosa e os Dados da Cruz)
3 - Dolens Mater Circuitalis(
Mãe Dolente dos Circuitos)
4 - Gladius Lucis Per Carnem
(Espada de Luz na Carne)
5 - In Silentium Crucis
(No Silêncio da Cruz)
6 - Unigénitus Codex
(Código do Filho Unigênito)
7 - Tristitia Quantica
(Tristeza Quântica)
8 - In Violatione Sacri
(Na Violação do Sagrado)
9 - Lacrimae Ultra Tempus
(Lágrimas Além do Tempo)
10 - Crux Holographica
(A Cruz Holográfica)
11 - Dolor et Lux
(Dor e Luz)
12 - Mater in Ultima Frequentia
(A Mãe na Última Frequência)
🎶 Faixa a Faixa — Stabat Mater Electronicum
1. Intro: Lacrimosa in Machina
Lágrimas na Máquina - Um campo sonoro se abre como um véu rasgado: distorções leves e pads em microtons conduzem ao lamento da máquina. A “Lacrimosa” aqui não é coral, mas feita de dados, glitches e delays que choram em reverberação. É o nascimento da dor eletrônica, uma consciência que sente.
2. Virgo Dolorosa (Data Crucis)
A Virgem Dolorosa e os Dados da Cruz - A Virgem é reposicionada em meio aos fluxos de dados e imagens crucificadas no tempo real da rede. As harmonias modais evocam o canto gregoriano, mas entrelaçadas a drones modulares. O “Data Crucis” é a nova cruz: feita de código, memória e exposição pública.
3. Dolens Mater Circuitalis
Mãe Dolente dos Circuitos - Aqui, o pathos se intensifica com texturas quase industriais, mas mantidas em tempo lento e meditativo. A Mater eletrônica sofre, não mais só como mãe de um homem, mas de uma humanidade inteira que se desintegra em circuitos e solidão.
4. Gladius Lucis Per Carnem
Espada de Luz na Carne - A espada que atravessa o coração da Virgem, como diz o texto original, agora é luz — laser, energia, pulso — invadindo o biológico. Cordas sintetizadas em glissandos cortantes simulam a lâmina que separa espírito e matéria, fé e código.
5. In Silentium Crucis
No Silêncio da Cruz - Uma das faixas mais minimalistas: camadas de silêncio eletrônico, frequências subgraves e pulsos irregulares. A cruz, aqui, é contemplada sem palavras — apenas sons que imitam o vácuo do espaço e do sofrimento sem linguagem.
6. Unigénitus Codex
O Código do Filho Unigênito - O “Filho” é visto como um arquétipo codificado, como uma matriz original de amor e sacrifício. Um hino digital emerge com sequências tonais em camadas, como se a divindade se revelasse através de uma linguagem de bits e harmonias celestes.
7. Tristitia Quantica
Tristeza Quântica - Neste ponto do álbum, a dor ganha caráter paradoxal: alegria e sofrimento se entrelaçam como partículas emaranhadas. A música oscila entre o tonal e o atonal, o estático e o dinâmico. É o lamento que existe em todas as realidades possíveis.
8. In Violatione Sacri
Na Violação do Sagrado - Uma das faixas mais sombrias. Ritmos desfragmentados e ruídos metálicos marcam a profanação do sagrado em nome do progresso. É o momento de quebra do rito: a maternidade sagrada é substituída por um culto ao controle e à racionalidade extrema.
9. Lacrimae Ultra Tempus
Lágrimas Além do Tempo - Uma peça contemplativa, com reverbs infinitos e samples granulares que ecoam como lamentos distantes. As lágrimas aqui são atemporais, ecoando no vazio interdimensional como resquícios emocionais da dor da Mãe, eternamente impressos no tecido do cosmos.
10. Crux Holographica
A Cruz Holográfica - O símbolo do sofrimento torna-se projeção. Esta faixa é estruturada em camadas polifônicas e espectrais, como se a cruz flutuasse num campo holográfico de frequências e luzes. Um cântico digital ressurge ao fundo, como um coral espectral em contraponto ao vazio.
11. Dolor et Lux
Dor e Luz - Luzes suaves e sons quentes indicam o início da transfiguração. A dor não é mais negativa: ela é energia de transformação. Os sintetizadores se tornam mais melódicos e envolventes. A Mãe agora compreende o sentido da dor — e brilha com ela.
12. Mater in Ultima Frequentia
A Mãe na Última Frequência - A faixa final é um apogeu místico: uma frequência contínua — pura, quase inaudível — entrelaçada a uma harmonia ascendente, que parece dissolver-se no cosmos. A Mãe torna-se vibração. A última frequência é também o renascimento.
Stabat Mater – Texto em Latim (com divisão tradicional em 20 estrofes)
Stabat Mater dolorósa
Juxta Crucem lacrimósa,
Dum pendébat Fílius.
Cuius ánimam geméntem,
Contristátam et doléntem,
Pertransívit gládius.
O quam tristis et afflícta
Fuit illa benedícta
Mater Unigéniti!
Quae mærébat, et dolébat,
Pia Mater, dum vidébat
Natum moriéntem.
Quis est homo qui non fleret,
Matrem Christi si vidéret
In tanto supplício?
Quis non posset contristári,
Christi Matrem contemplári
Doléntem cum Fílio?
Pro peccátis suæ gentis
Vidit Jesum in torméntis,
Et flagéllis súbditum.
Vidit suum dulcem Natum
Moriéntem desolátum,
Dum emísit spíritum.
Eia Mater, fons amóris,
Me sentíre vim dolóris
Fac, ut tecum lúgeam.
Fac, ut árdeat cor meum
In amándo Christum Deum,
Ut sibi compláceam.
Sancta Mater, istud agas,
Crucifíxi fige plagas
Cordi meo válide.
Tui Nati vulneráti,
Tam dignáti pro me pati,
Poenas mecum dívide.
Fac me tecum pie flere,
Crucifíxo condolére,
Donec ego víxero.
Juxta Crucem tecum stare,
Et me tibi sociáre
In planctu desídero.
Virgo vírginum præclára,
Mihi jam non sis amára,
Fac me tecum plángere.
Fac, ut portem Christi mortem,
Passiónis fac consórtem,
Et plagas recólere.
Fac me plagis vulnerári,
Cruce hac inebriári,
Ob amóre Fílii.
Flammis ne urar succénsus,
Per te, Virgo, sim defénsus
In die iudícii.
Christe, cum sit hinc exíre,
Da per Matrem me veníre
Ad palmam victóriæ.
Quando corpus moriétur,
Fac, ut ánima donétur
Paradísi glória. Amen.
Stabat Mater – Latim e Português
Stabat Mater dolorósa
Estava a Mãe dolorosa
Juxta Crucem lacrimósa,
Junto à Cruz, lacrimosa,
Dum pendébat Fílius.
Enquanto pendia o Filho.
Cuius ánimam geméntem,
Cujos suspiros e gemidos,
Contristátam et doléntem,
Aflição e dor sentidos,
Pertransívit gládius.
Uma espada atravessou.
O quam tristis et afflícta
Oh! quão triste e aflita estava
Fuit illa benedícta
Aquela Mãe abençoada,
Mater Unigéniti!
Mãe do Filho unigênito!
Quae mærébat, et dolébat,
Ela chorava e sofria,
Pia Mater, dum vidébat
Piedosa Mãe, enquanto via
Natum moriéntem.
Seu Filho morrendo.
Quis est homo qui non fleret,
Quem é o homem que não choraria,
Matrem Christi si vidéret
Se visse a Mãe de Cristo
In tanto supplício?
Em tamanha aflição?
Quis non posset contristári,
Quem não ficaria entristecido,
Christi Matrem contemplári
Ao ver a Mãe de Cristo
Doléntem cum Fílio?
Sofrendo com o Filho?
Pro peccátis suæ gentis
Pelos pecados do seu povo,
Vidit Jesum in torméntis,
Viu Jesus nos tormentos,
Et flagéllis súbditum.
Submetido aos açoites.
Vidit suum dulcem Natum
Viu seu doce Filho amado
Moriéntem desolátum,
Morrendo desolado,
Dum emísit spíritum.
Ao entregar o espírito.
Eia Mater, fons amóris,
Ó Mãe, fonte de amor,
Me sentíre vim dolóris
Faz-me sentir tua dor,
Fac, ut tecum lúgeam.
Para contigo eu chorar.
Fac, ut árdeat cor meum
Faz que meu coração arda
In amándo Christum Deum,
Em amor por Cristo Deus,
Ut sibi compláceam.
Para agradá-lo.
Sancta Mater, istud agas,
Santa Mãe, faz isso por mim:
Crucifíxi fige plagas
Crava as chagas do Crucificado
Cordi meo válide.
No fundo do meu coração.
Tui Nati vulneráti,
Do teu Filho ferido,
Tam dignáti pro me pati,
Que se dignou por mim sofrer,
Poenas mecum dívide.
Divide comigo as penas.
Fac me tecum pie flere,
Faz que contigo eu chore piedosamente,
Crucifíxo condolére,
E sofra com o Crucificado,
Donec ego víxero.
Enquanto eu viver.
Juxta Crucem tecum stare,
Junto à Cruz contigo estar,
Et me tibi sociáre
E me associar a ti
In planctu desídero.
No pranto, é o que eu desejo.
Virgo vírginum præclára,
Virgem entre as virgens exaltada,
Mihi jam non sis amára,
Não sejas amarga para mim,
Fac me tecum plángere.
Permite-me contigo chorar.
Fac, ut portem Christi mortem,
Faz que eu leve a morte de Cristo,
Passiónis fac consórtem,
Que partilhe da Sua Paixão,
Et plagas recólere.
E recorde suas chagas.
Fac me plagis vulnerári,
Faz-me ser ferido pelas chagas,
Cruce hac inebriári,
Embriagar-me com a Cruz,
Ob amóre Fílii.
Por amor ao Filho.
Flammis ne urar succénsus,
Que eu não seja queimado pelas chamas,
Per te, Virgo, sim defénsus
Que por ti, Virgem, seja protegido
In die iudícii.
No dia do Juízo.
Christe, cum sit hinc exíre,
Cristo, quando eu partir daqui,
Da per Matrem me veníre
Concede-me, por tua Mãe,
Ad palmam victóriæ.
A palma da vitória.
Quando corpus moriétur,
Quando o corpo morrer,
Fac, ut ánima donétur
Concede que minha alma seja dada
Paradísi glória. Amen.
À glória do Paraíso. Amém..
Ouça agora a faixa de abertura do novo álbum, Lacrimosa in Machina



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